Cinco formas de exercer o seu antirracismo - Parte 2

Foto: Jeet Dhanoa/Unsplash
*Por Jaqueline Fraga
Como prometido na última coluna, o texto de hoje traz a continuação do artigo que publicamos no mês anterior, com formas de enfrentamento ao racismo elencadas a partir do Pequeno Manual Antirracista, de autoria de Djamila Ribeiro.
Sem mais demora, vamos a mais cinco maneiras de exercer o antirracismo no nosso cotidiano.
1. Transforme seu ambiente de trabalho
Esse tópico tem muito a ver com o meu primeiro livro, o “Negra Sou: a ascensão da mulher negra no mercado de trabalho”, com o qual tive a honra de me lançar oficialmente como escritora e ter alcançado conquistas que muito me orgulham e emocionam. Ao falarmos sobre ambiente de trabalho e sobre como podemos ser antirracistas nesse espaço, uma das primeiras perguntas que podemos fazer é: qual a proporção de pessoas brancas e negras na sua empresa? E em quais cargos? Há pessoas negras em posições de gerência e chefia? É preciso racializar, também, esse questionamento. E é preciso, ainda, também atentar-se ao perigo da história única. Não é porque há apenas uma pessoa negra nesses espaços, em um universo de inúmeras pessoas brancas, que a empresa cumpriu o seu papel. É necessário que haja representatividade de fato, que ela seja significativa e real.
2. Leia autores negros
Mais uma vez, esse é um tópico que reflete, e muito, a minha própria trajetória. Vira e mexe, falo sobre a importância de apoiarmos autoras e autores negras e negros. Inclusive, esse é o tema de um artigo que escrevi para o portal Geledés - Instituto da Mulher Negra, em que também sou colunista. Aliás, vou compartilhar esse texto aqui no próximo mês e espero que a leitura também seja significativa para vocês. Precisamos combater o apagamento da produção e dos saberes negros. Precisamos apoiar Iniciativas lideradas e obras escritas por pessoas negras. E isso inclui adquirir nossas obras, refletir sobre o que escrevemos e divulgar o nosso trabalho. Já passamos tempo demais sob as hostes do silenciamento. Como já nos ensinou Conceição Evaristo: “para a mulher negra, escrever é um ato político”. Valorize nossas escritas, nossos saberes, nossa política e nossa intelectualidade.
3. Questione a cultura que você consome
Quem são as pessoas escolhidas para representar a marca que você consome? Quais os papéis destinados a artistas negros em filmes, séries ou novelas? Esses questionamentos podem nortear as análises referentes à indústria cultural. São temas, inclusive, que costumo abordar nos eventos em que participo. Em um artigo que escrevi para o portal Geledés, analisei os papéis destinados às personagens interpretadas por atrizes negras em uma novela das 19h da TV Globo. Os links diretos para os textos estão disponíveis nos meus perfis no Instagram (@jaquefraga_ e @livronegrasou) e será um prazer ter vocês como leitoras e leitores. Novamente, a representatividade precisa vir acompanhada de um compromisso real com características positivas. Não dá para achar normal que atores e atrizes negras representem, sempre, personagens sulbalternas, marginalizadas ou com falhas de caráter.
4. Conheça seus desejos e afetos
Um dos danos que o racismo gerou está muito relacionado à autoestima e ao bem estar das pessoas negras. Ou, melhor, ligado a práticas que afetam a autoestima e o bem estar. Desde crianças somos ensinados que nossas características e nossos traços não são belos. Daí a importância de não atribuírmos características negativas ao fenótipo negro. Também é necessário combater a hipersexualização de pessoas negras. Há muito exemplos, inclusive midiáticos e que perduraram por anos, que atribuem sexualização excessiva a corpos negros. O afeto também é construído e precisamos enxergar a nossa própria beleza.
5. Combata a violência racial
A população negra está mais exposta a violência no Brasil. Pessoas negras representam 71,5% dos assassinados no país. Um jovem negro morre a cada 23 minutos no Brasil. São dados que refletem como a vida negra parece importar menos, ou, muitas vezes, nem importa. Ao menos não aos olhos de uma branquitude que pouco faz diante desses números. É preciso políticas públicas que combatam, de fato, essa violência racial. Vidas negras precisam importar de fato, não podemos continuar perdendo histórias como se nada fossem e pouco valessem.
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Jaqueline Fraga é escritora, jornalista formada pela Universidade Federal de Pernambuco e administradora pela Universidade de Pernambuco. Apaixonada pela escrita e pelo poder de transformação que o jornalismo carrega consigo, é autora do livro-reportagem “Negra Sou: a ascensão da mulher negra no mercado de trabalho”, finalista do Prêmio Jabuti, e do “Big Gatilho: um livro de poemas inspirado no BBB 21”. Pode ser encontrada nas redes sociais nos perfis @jaquefraga_ (Instagram e Twitter) e no @livronegrasou no Instagram. Escreve por profissão prazer e terapia. Escreve porque respira, respira porque escreve.
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