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Literatura

Miró no Tesão: “Não quero deixar o quintal de Deus agora”

Por: SIDNEY NICÉAS
Miró recebeu o Tesão Literário na clínica onde continua vivendo e bateu um papo profundo sobre as mudanças na sua vida

Foto: Sidney Nicéas

08/08/2021
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*por Sidney Nicéas

Nome pungente da convencionada Poesia Marginal (termo infeliz, convenhamos), Miró da Muribeca tem feito da sua vida uma espécie de poema-crônica, desses que ele declama com vigor. Há anos o poeta luta contra o alcoolismo. Com 61 anos completados na última sexta (06), Miró hoje aparenta uma espécie de colcha de retalhos na face, que costura um sorriso consciente de si, sorriso que se enlarguece ainda mais quando fala sobre seu novo livro, O Céu é no 6º Andar, lançado no mesmo dia em que festejou novo ciclo de idade. 

“Eu tô descobrindo coisas que não descobri aos 38, nem aos 42 ou 45. Viver é não antecipar a morte. Eu antecipei a minha”, fala com feição consciente. Isso, aliás, é meio que o mote central do livro, espécie de autobiografia poética em que Miró tece com habilidade um inferno-céu no qual se equilibra. “O livro é autobiográfico. Quando eu ia pro hotel ficava três, quatro meses. O câncer do álcool me pegava. Eu dizia que ia tomar uma cervejinha pra dormir, mas era mentira. Se eu tomar uma num é pra dormir, comigo não, eu não posso porque sou doente. Então o livro é o céu não ser tão alto, é no 6º andar. Então tu desce logo, bicho, e vem pra cá”, define. E completa. “Então o livro é parte da clínica, eu dizendo que não quero sair, que sei que o mundo lá fora é alegre mas minhas pernas precisam agora da minha tristeza, porque não quero chegar no bar. A psicologia de não querer morrer e morrendo”. 

A luta pela vida mudou a própria maneira de ver a vida. “Eu tô usando muito a palavra calma. Porque todos os dias quando acordo e vejo a luz de Deus… Então hoje eu aprendi que quando abro os olhos e vejo a luz de Deus na janela, digo: meu Deus, Tu me desse uma bandeja hoje. O que vou fazer com ela?”. Miró emenda: “Todo mundo um dia vai mudar. Eu não conheço nenhum que não mude. Todo mundo muda em alguma coisa. Eu mudei na minha calma, nas minhas vendas, em saber como viver pra ter o que comer e estar vivo na Terra, porque quer queira quer não, com toda a miséria humana que a Terra tá passando, ela ainda é um lugar maravilhoso de se estar”.

Na clínica em que se mantém internado, o poeta me recebeu com a alegria e o carinho de sempre, ainda que com todos os cuidados necessários diante da Pandemia. E concedeu uma entrevista recheada de risos, seriedade e, acima de tudo, gratidão (recíproca) pelo reencontro, onde falou sobre a vida, a morte, o novo livro, a oficina que está ministrando. Leia a seguir. Simplesmente imperdível.

 

TESÃO LITERÁRIO- A luta pela vida tem marcado a sua própria vida nos últimos anos. De maneira geral, o que é viver? E como tem sido viver pra você? Existir continua sendo foda?

MIRÓ- Viver pra mim é... O que aconteceu comigo, dei sorte. Hoje com 61 anos eu tô descobrindo coisas que não descobri aos 38, nem aos 42 ou 45. Viver é não antecipar a morte. Eu antecipei a minha. Minha mãe, que era espírita, dizia que o homem tem três mortes. Se na terceira ele não se preocupar com a quarta… repetindo os mesmos erros… né? Se eu hoje voltar a beber, eu morro. Com 61 anos eu não quero a minha quarta morte. Sei que vou morrer, mas antecipar a morte é burrice. Eu não quero morrer agora, eu não quero deixar o quintal de Deus agora. Quero ficar aqui. Vivo. Com dois livros, que tem também a minha biografia que vai sair ainda pela CEPE. Então não vejo nenhum motivo pra beber. Tudo isso continua sendo foda. Tem o foda de bom, como você ter vindo hoje aqui, tem o foda de ruim, que é ver alguém dormindo na (Praça) Maciel Pinheiro enquanto tô dormindo aqui, eu, que já fui paupérrimo, tem gente que até uma hora dessas só comeu um pão francês… a vida continua assim, ruim e boa, e vai ser sempre assim.

TL- Em meio a tantos desafios - e ainda somando a Pandemia -, como Miró vem tirando ideias do pote?

MIRÓ- Eu tô escrevendo agora sobre… sobre o que tô passando. Como por exemplo, eu tô usando muito a palavra calma. Porque todos os dias quando acordo e vejo a luz de Deus… quem é ateu, o meu livro novo abre com isso: Quanto aos ateus, a Deus. Cada um com sua religião, mas você vai dormir agora, vai fechar os olhos e não sabe se vai acordar. Então hoje eu aprendi que quando abro os olhos e vejo a luz de Deus na janela, digo: meu Deus, Tu me desse uma bandeja hoje. O que vou fazer com ela? Na verdade quando você dorme, morre. Eu prefiro viver. Agora tenha calma no que vai fazer. Você ontem estava vivo, dormiu, acordou e Deus lhe deu uma bandeja. Cabe a você preencher, porque Deus num vai arrumar emprego pra você deitado não. Para as pessoas não pensarem que tô muito evangélico, mas é que quando a gente passa pela morte, a gente enxerga coisas… por exemplo, levanta-te e anda… Eu tenho dois cuidadores que cuidam muito de mim aqui na clínica, mas hoje já não preciso deles como antes. É um processo. Você tem que melhorar a sua vida.

TL- Aliás, cabe perguntar sobre esse momento que a gente ainda vive. O mundo parou por alguns meses, muita gente morrendo, gente negando a ciência, um vírus virando o mundo de cabeça pra baixo… Sua poesia seria capaz de prever esse momento, talvez, distópico?

MIRÓ- Não. O stop da vida não, agora o que eu sinto é que enfraquecemos. Tem uma frase minha, que está no meu livro Miró Até Agora, que eu digo assim: Deus também lavou as mãos, eu só não sei com que sabão. Pode ser também que o homem ficou tão ruim… Eu quero comprar um carro, uma mansão, quero comprar… o homem ficou tão ruim que esqueceu que existem os animais, a natureza, que não é só ele não! A simplicidade da vida. Então eu acredito que temos chance ainda, que essa doença vai acabar… já tivemos tantas doenças, mas estamos aqui ainda. Cabe a você se cuidar. Quer usar máscara não? Então não usa, o problema é seu se quer antecipar a sua morte. Nunca criei poemas pensando em tragédias feito essa. Eu penso na vida.

TL- Como você enxerga hoje o poeta Miró? Reinventar-se é sempre preciso?

MIRÓ- Sim. Eu hoje me enxergo na calma. Eu não tenho pai, eu não tenho mãe, eu não tenho irmão, eu tenho uma grande família que são vocês, meus amigos e leitores. Eu preciso ter a calma de como agir. O que eu quero fazer ao sair? Quem eu quero que me entreviste?

TL- Você acha que isso tem mais a ver com a idade ou…

MIRÓ- A idade. O tempo, o tempo. Todo mundo um dia vai mudar. Eu não conheço nenhum que não mude. Todo mundo muda em alguma coisa. Eu mudei na minha calma, nas minhas vendas, eu saber como viver pra ter o que comer e estar vivo na Terra, porque quer queira quer não, com toda a miséria humana que a Terra tá passando, ela ainda é um lugar maravilhoso de se estar.

TL- Como é chegar aos 61?

MIRÓ- Eu não sei. A única coisa que sei é que hoje eu tenho calma. Se era pra ir daqui pra Nova York a pé eu já não vou mais. Os 60 me deram a oportunidade de olhar o mundo de 30, isso eu não quero mais não. Tô lendo muito Psicologia e tem um livro de um psicólogo que diz no fim do livro que a melhor coisa de um ser humano é quando ele descobre o que ele não quer mais. Miró, vamos ali fumar um baseado, tomar um gole, quebrar uma vidraça… eu não quero! Então quando você descobre que está calmo, feliz, com roupas, tô sendo muito ajudado aqui. Eu fui um homem de família pobre e hoje não sou rico, mas me sinto rico, e não digo de dinheiro não, rico de coração. Dou mais valor às coisas, à vida. Tô rico de alegria. Meus amigos são de verdade. Em mim hoje… por exemplo, eu não casei, não tive filhos - eu tive um filho com uma mulher, mas ela sumiu com ele e não sei por onde ele anda -, isso só no sangue, porque você é meu irmão, Wilson (Freire) é meu irmão, Wellington (de Melo) é meu irmão, Adroaldo é meu irmão, Paulinho é meu irmão, sabe, o pessoal aqui da clínica… que eu saiba aproveitar isso. Num momento desse se você tem uma pessoa pra te ajudar e você vai errar? Isso é uma glória!

TL- Oficina de poesia, combos lançados pela CEPE Editora, livro novo... Conta pra gente como está sendo essa volta mais ativa à labuta?

MIRÓ- Está mais ativa por conta de Wellington de Melo, meu editor, que é um cara muito trabalhador e profissional. E o Governo fez o Miró Até Agora, que foi minha segunda morte. Se você não sabe, eu ia morrendo e o governo, pela CEPE, atendeu ao pedido de algumas pessoas e editou o livro. E pra brincar comigo botaram Miró Até Agora. Sabe o que aconteceu? O livro já vendeu seis mil cópias pelo Brasil. Então eu hoje sou um escritor conhecido quase que no mundo inteiro. E vou dizer mais: como você é meu irmão e merece coisas novas pra dizer, eu, desde 1985, quando tinha 25 anos e trabalhava na SUDENE, lancei meu primeiro livro Quem Descobriu o Azul Anil, e desde então todo dinheiro que tenho na minha vida vem disso, que você sabe que não é muito, mas é do que mais gosto de fazer. E faz 25 anos que não pego um ônibus pra ir pro mesmo lugar todo dia. Com a poesia.

TL- A poesia te deu asas…

MIRÓ- Me deu, me deu. A poesia salvou minha vida. E minha mãe dizia Cuide, meu filho, da sua poesia, eu não gosto não, mas tem muita gente que gosta, então cuide dela direitinho. Esse cuide direitinho eu tô aqui por causa disso. Eu tô aqui só pelo que escrevo, porque as pessoas gostam, morrem de rir, e tem uma coisa boa: fui recitar uma vez em São Paulo, no meio da rua, é a cidade que mais gosto depois do Recife, e tinha um cara olhando pra mim e eu senti que ele tava me olhando, eu comecei a falar uma poesia sobre São Paulo… - porque eu sou um cronista, eu falo Recife, cidade das pontes, das misérias da Bomba do Hemetério… eu gosto de falar do bairro do cara, pro cara se identificar… Aí o cara lá em São Paulo chegou perto de mim e disse: Amigo, parabéns. Vou dizer uma coisa ao senhor, eu nunca comprei um livro na minha vida, mas eu quero comprar o seu pra dizer a minha mulher o que o senhor disse aqui. Isso pra mim foi uma coisa tão bonita, cara. Num tem preço não.

TL- Como nasce um poema é o tema da sua oficina. Como nasce um poema?

MIRÓ- O poema nasce com o ouvir. Pra mim, um poeta como eu precisa ouvir o que está ao redor. Eu adoro escutar. Quando eu escuto, fico com aquilo no ouvido… Outro dia estava dormindo numa casa, estava viajando, e acordei com uma voz de mulher dizendo pro cara: Vem cá, o que é que tu foi fazer no Bar de Rosa de cinco horas da manhã hein? Aí ele disse alguma coisa, mas só ouvi o que ela falou. O silêncio baixou. Aí fiquei ouvindo, vão brigar, aí pronto. O poema nasce assim. Se eu fosse o cara dizia assim: Porque estava aberto. (risos) O poema também nasce do que vejo. Feito aconteceu em São Paulo, com uma poesia que ganhei um prêmio, numa das ruas mais ricas de lá, a Oscar Freire, um cara comprou um carro - isso é verdade, a poesia foi depois -, o cara comprou um carro, acertou tudo direitinho e foi buscar o dinheiro no banco do outro lado, assinar as coisas, e quando voltou foi atropelado e morreu. Aí fiz o poema, só que eu ‘brinco’ também muito com isso. Gente, cuidado. O título também é muito importante. O título às vezes é melhor do que o texto. Aí coloquei o título: Acontece Cada Coisa… Aí eu digo: Comprou o carro que sonhava, mas morreu atropelado quando foi atravessar para assinar os documentos no Banco do Brasil. Se eu dissesse isso sem o título, não funcionava. A oficina terminou nessa sexta, a primeira turma. Vamos ver a sequência agora. Essa oficina tem gente de todo país. É on-line. Eu já soube que a maioria que fez quer fazer de novo. Eu me sinto muito feliz, porque minha palavra chega às pessoas. Não sou eu falando poesia, é sobre processo criativo. Como Nasce um Poema. Conversando, respondendo perguntas, dou dicas de como aproveitar ideias.

TL- Você é um cara sinestésico, que gosta do abraço, do carinho. Como é fazer um evento on-line para Miró?

MIRÓ- Tá difícil porque sou muito humano, né? Gosto de tocar, brincar. Como sou Kardecista, a gente é muito de ver o riso do outro, como o outro está, de abraçar, então é difícil falar on-line. Mas foi bom pela experiência. As pessoas dizendo Eu lhe vi em tal canto, Meu filho viu você… a coisa acaba tendo um alcance maior. E o mais impressionante é que todo mundo quer fazer a oficina de novo.

TL- Isso acaba sendo mote interessante para outro poema?

MIRÓ- Eu tô escrevendo muito sobre essa tristeza, né? Tem até uma frase assim: Não me convide, só uso máscara no Carnaval. Pra brincar com isso, ainda que isso seja muito triste pra se brincar, mas até isso me faz querer brincar com o rir, trazer algo bom nessa tristeza para alegrar as pessoas.

TL- Como você recebe o carinho das pessoas, amigos, leitores, que têm em Miró um poeta e pessoa indispensáveis?

MIRÓ- Eu me sinto muito feliz mesmo. Também, meu amigo, você ser reconhecido na rua. Oh, escrevo por causa de tu, ou Minha mulher escreve por causa de tu, isso é de uma beleza muito grande pra ouvir. E não é vaidade, é saber que tem um impacto pro outro. Uma vez uma cara disse Porra mago, tu me fez pensar em cada coisa depois que li teu livro... obrigado viu? Eu não sei o que ele pensou, mas ele me disse isso na Conde da Boa Vista, era meio-dia. Quando ele agradeceu meu coração chega pulou de alegria… então agitei ele né? 

TL- Fala sobre O Céu é no 6º Andar…

MIRÓ- Meu livro novo se chama O Céu é no 6º Andar porque era o andar que eu morava no Hotel Central. Quando melhoro aqui vou pra lá, todo mundo gosta de mim, trabalho… mas nunca mais fui porque quero ficar mais aqui. Antes eu não podia nem andar - cheguei aqui com 37 quilos, brother, e hoje tô com 63. Então a vida é a coisa mais simples do mundo, mesmo que não pareça. Faz o bem que o bem vem. Se tô fazendo o bem ele vem. Aqui na clínica é um lar. O livro é autobiográfico. Quando eu ia pro hotel ficava três, quatro meses. O câncer do álcool me pegava. Eu dizia que ia tomar uma cervejinha pra dormir, mas era mentira. Se eu tomar uma num é pra dormir, comigo não, eu não posso porque sou doente. Então o livro é o céu não ser tão alto, é no 6º andar. Então tu desce logo, bicho, e vem pra cá. Tem uma poesia que gosto que é bem hilária. Eu me acordei com um cara dizendo pra mulher dele, noutro quarto: Ó, hoje é o seguinte, se a gente vai sair num quero conversa com ninguém. E outra coisa, eu vou sair primeiro e você sai depois e a gente se encontra em algum canto! Aí eu escrevi assim: E no outro dia de manhã ele levantou-se, aproveitou a mulher dormindo e saiu. Entrou na padaria e comprou 4 pães, 4 litros de leite e saiu bem devagarzinho pra ninguém vê-lo. Saiu tão devagar que não viu que o sinal tava aberto. Aí não falou nunca mais. Quer dizer, essa urgência, eu não quero mais isso… a vida não é só o que a gente quer. Tem uma frase também que gosto muito: O que um surdo gostaria de ouvir de Cristo? O Hotel Central fica num corredor pro IMIP. Tem um bar lá perto. Eu tava nele uma vez, tava super mal, e vi um cara passando sem as duas pernas, segurando dois ferros, indo pro IMIP. Aí escrevi na hora: Passou um homem na minha frente sem as duas pernas. E eu com as duas pernas não sabia pra onde ir. Eu escrevo sobre o humano, na rua, o cara que passa gritando Acelora (ele não consegue dizer acerola). Eu gosto disso. Então o livro é parte da clínica, eu dizendo que não quero sair, que sei que o mundo lá fora é alegre mas minhas pernas precisam agora da minha tristeza, porque não quero chegar no bar. A psicologia de não querer morrer e morrendo.

TL- O que você diz do momento atual do nosso país?

MIRÓ- Vou te responder sinceramente: não tô acompanhando. Me afastei. Nem televisão vejo direito. Eu perdi um pouco o tesão na política. Eu gosto mais das pessoas. Mas eu acho que o sistema político não me interessa muito, como têm feito isso. Por decepção mesmo. Você vê que não muda quase nada. Meu trabalho acaba tendo mais efeito do que as políticas públicas, tem porque vou pra rua dizer. E digo mesmo. Como eu escrevi assim: O policial perguntou, tá indo pra onde boy? Aí o boy disse, Canto nenhum. Porque é que o policial tem que perguntar pra onde tu tá indo? Que direito ele tem? Entende? Eu acho que essa coisa da repressão… tudo bem que tem drogas, tal, mas sempre teve. Só que agora tá uma bagunça. Tu vota num cara que tu pensa que é isso, aí o cara é amigo de um filho de uma puta que sacaneou outro… não, eu não, tô ligado é no livro novo, como o cara que quis morrer com 30 tá com 60 hoje, dobrou. Inclusive venho justificando meu voto. Num tem coisa na vida que tu perde o tesão? Pronto, eu perdi o tesão. Quem quiser votar deve ir, até porque tá na hora de tirar esse Bolsonaro que tá aí, que eu chamo de Bostanaro. Eu acho que se puderem votar, se eu for votar não votaria nele nunca. Eu acho que o problema é que a gente nem sabe direito em quem votar. Virou uma síndrome assim: mas Lula de novo? Ciro Gomes? Bolsonaro? Congelou. Eu mesmo num tenho vontade de votar. Mas num sei como será essa luta. A minha doença é uma luta que tá na frente disso, não que a política não seja importante, mas hoje luto mais pela minha vida.

TL- Completando a pergunta anterior: o que você diria de Miró como presidente do Brasil? O que mudaria com um poeta no comando da nação - ou poetas têm coisas nas quais são melhores em fazer?

MIRÓ- Eu ia fazer coisas que fizessem todo mundo ler mais. E se eu pudesse, pode parecer uma bobagem mas vou dizer, diminuiria o número de celulares no mundo. É uma coisa boa, não nego, mas, meu irmão, ninguém nem faz mais carinho, com a cara na tela, isso me dá uma tristeza. A gente tá menos humano. Parece até que filmes como Blade Runner estão muito mais líricos do que a nossa realidade. Eu já vi um cara chegar num bar com uma namorada, ele pediu uma cerveja e ficou no telefone, a mulher foi embora e ele nem viu! A tecnologia é muito boa pra facilitar as coisas da vida, mas toda hora? O celular deixou a gente sem conversar mais, sem bater papo. Quatro pessoas numa mesa no telefone, sem falar nada… A tecnologia tem seu lado positive vibration e tem seu lado the best of the bosta!

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